O que é a hipnopedia?
Já ouviu alguma vez falar sobre a hipnopedia? Ao que parece, a hipnopedia consiste em aprender nova informação enquanto dormimos. Esta ideia tornou-se muito popular na década de 1950, sobretudo entre aquelas pessoas que queriam aprender um novo idioma, deixar maus hábitos, ou simplesmente aprender algo novo.
Hoje em dia, sabemos que o sono desempenha um papel vital na memória e na aprendizagem, especialmente na consolidação da memória (transferindo informação da memória a curto prazo para a memória a longo prazo). No entanto, estar exposto a estímulos completamente novos durante o sono não parece ter um grande efeito para quando estamos acordados.
De onde surgiu a ideia da hipnopedia?
Provavelmente, a primeira menção de um dispositivo utilizado para a aprendizagem durante o sono provém do escritor de ficção científica Hugo Gernsback e da sua história, escrita em 1911. Quase duas décadas depois, Alois Saliger inventou um dispositivo: o Psycho-Phone, afirmando que dormir não era diferente de estar hipnotizado, e que podíamos ser influenciados também por sugestões.
Depois de vários anos, em 1932, Huxley, em “Admirável Mundo Novo”, explicou a ideia da hipnopedia. Neste romance, as pessoas são inculcadas com mensagens morais através de uma série de frases, que se repetem uma e outra vez enquanto dormem.
Os cientistas consideraram que a ideia era impossível, mas voltou a tornar-se popular uma vez mais na década de 1950, quando se utilizou o EEG (eletroencefalograma) para rastrear o sono. Mais ou menos neste momento, a hipnopedia converteu-se em algo de grande interesse (ainda mais) em muitos livros de ficção, séries e filmes, na rádio e na televisão.
Quiçá a aparição mais famosa da ideia possa ser encontrada no romance e no filme “A laranja mecânica”, no qual se esperava que a personagem principal fosse reabilitada, para depois ser convertida numa pessoa incapaz de cometer delitos e ações violentas.
Muitas empresas beneficiaram da popularidade da hipnopedia, vendendo os seus materiais de áudio a pessoas de todos os estratos da sociedade.
O que é a hipnopedia, e como funciona?
A hipnopedia consiste na aprendizagem que se produz enquanto dormimos. A ideia por trás disto é que as pessoas poderiam aprender e usar ativamente o conhecimento sem nenhum esforço. Ainda que seja um conceito atrativo, a investigação não foi capaz de suportar a hipnopedia neste sentido. No entanto, existem algumas investigações que convidam à reflexão, e que nos dizem que os seres humanos podem aprender determinadas quantidades de informação enquanto dormem.
Quando se escutam novas palavras em pessoas dormidas, estas não as irão recordar, nem poderão reconhecer que as escutaram enquanto dormiam. Um estudo publicado em 2016 na revista Neuroscience of Consciousness demonstrou que as palavras que se escutam pela noite não passam despercebidas para o cérebro.
Ainda que os sujeitos do estudo não tenham podido recordar ativamente nenhuma das palavras dadas, as gravações de EEG revelaram que existia um “rastro de memória” nas suas vias neurais. Este rastro de memória não era o mesmo para as palavras aprendidas durante a vigília e para as palavras apresentadas durante o sono. Porém, esta informação não passa pelo córtex pré-frontal, pelo que não se pode recuperar.
A aprendizagem durante o sono mostra resultados em condicionamento áudio-olfativo (som-odor), tal como afirma outro estudo publicado em 2012 na revista Nature. Um grupo de pessoas escutou um som, seguido de um mau odor durante o sono. Também se reproduziu um som diferente, seguido de um odor agradável.
Nas noites seguintes repetiram-se os mesmos sons, e os participantes aprenderam que sons coincidiam com que odores durante o sono. Depois de reproduzir o som associado com um mau odor, as pessoas cheiravam de forma débil, como se quisessem evitar o odor, e vice-versa; depois do outro som, inspiravam com bastante mais vigor.
Ao contrário do primeiro exemplo, onde o eletroencefalograma era a única maneira de verificar rastros de aprendizagem, neste estudo o comportamento do olfato persistiu durante a vigília. No entanto, os sujeitos não eram conscientes de terem aprendido este hábito.
De fato, os odores podem ser utilizados para ajudar os fumadores a deixarem este hábito. Ao serem combinados com odores desagradáveis enquanto dormimos, o cheiro do cigarro recebe uma associação desagradável na nossa mente. Este experimento de condicionamento aversivo faz com que os cigarros sejam desagradáveis: isso faz com que as pessoas, posteriormente, deixem de fumar. Este tipo de aprendizagem demonstrou melhores resultados quando o odor se produziu durante a segunda etapa do sono, no sono leve.
E você? Já sabia o que é a hipnopedia? Quiçá possa ser-lhe útil, caso tenha algum mau hábito, ainda que, não se esqueça, o mais importante pela noite é descansar adequadamente!