O significado dos sonhos
Tudo começou no ano de 1953, quando dois cientistas de apelidos impronunciáveis (Aserinksy e Kleitman) se encontravam em plena investigação. Ambos eram estudiosos do mundo do descanso, até ao ponto de realizarem em laboratórios uma profunda e exaustiva exploração acerca do sono. Sem o pretenderem, como já lhe aconteceu a Cristóvão Colombo, ao encontrar a América quando estava a caminho das Índias, descobriram os movimentos rápidos e espasmódicos que se produzem quando estamos a passar pela fase REM. Um ponto histórico e que marcou o começo, não só de uma investigação mais profunda do descanso, mas também de um teorizar e de um querer saber mais sobre o significado dos sonhos.
História dos sonhos: assim começou o boom por conhecer os significados
O doutor Eugene Aserinsky é considerado um dos pioneiros no que hoje conhecemos como medicina do sono. Junto com o já mencionado Nathaniel Kleitman, outro cientista que, na sua ânsia por saber mais, chegou a extremos como dormir durante um mês numa câmara de pedra ou a viver num submarino, descobriram a fase REM. O tiro de saída para o “boom” por saber tudo sobre o que sonhamos: os motivos, as causas, as teorias, os significados ou os subtextos.
Para descobrir que existe uma fase do sono REM, Kleitman e Aserinsky tiveram que monitorizar a atividade cerebral de umas quantas pessoas. E, para isso, usaram o que então era um aparelho de eletroencefalograma (EEG). Poucas horas depois de começarem esta extravagante experiência, o aparelho começou a oferecer uns resultados mais próprios de um filme de ficção científica: os dormentes mostravam uma atividade similar à que acontece quando estamos despertos. No entanto, continuavam a dormir. O que é que estava a acontecer?
Com o passar do tempo, já entendemos que as ondas beta que produz o nosso cérebro quando estamos despertos são muito similares às da fase REM. Mas, naquela altura, isto ainda não era conhecido. Tal como era desconhecido o movimento errático dos olhos.
Com resultados como esse 74,1 % dos participantes que recordava sonhos da fase REM (por comparação com os 17,4 % que recordavam sonhos durante a etapa NREM”), ambos os cientistas publicaram um artigo intitulado ‘Períodos de ocorrência regular de motilidade do olho e fenómenos concomitantes durante o sono’. E, sob este título tão pomposo, estava o início de todo um fenómeno: o estudo dos sonhos.
O que sabemos acerca do significado dos sonhos?
Após mais de meio século de investigações oficiais e científicas, a resposta curta poderia levar-nos a um muito coloquial “pouca coisa”. Pelo menos, em quanto ao significado dos sonhos diz respeito, a psicologia foi capaz de estabelecer uma série de padrões de referência. Por exemplo, quando sonha com ratos ou com baratas.
As investigações que derivaram da estabelecida pelos pioneiros Aserinksy e Kleitman foram averiguando mais aspectos relacionados com a ciência do que com a psicologia. Sem ir mais longe, já podemos saber que existem correlações entre as lembranças do sonho e a fase REM na qual sucedem: uns 80%. Pelo contrário, nos últimos anos descobriu-se um aumento na percentagem de sonhos produzidos na fase NREM que depois podiam ser recordados.
Quais são os motivos? O simples feito de que um investigador utilize uma definição de sonhar com algumas palavras diferentes à definição de outro cientista, pode produzir variações e inconsistências na experiência. Por um lado, existe uma corrente maioritária que define o sonho como uma atividade cognitiva. Por outro lado, temos os investigadores que associam o sonhar com uma sucessão de imagens alucinatórias e aleatórias.
Em definitivo, o significado dos sonhos ainda não se pode estabelecer como uma ciência. Se é verdade que investigadores e cientistas levam mais de meio século realizando os seus próprios estudos, ainda se encontra no lado mais obscuro do conhecimento.
Um sonho em particular pode levar a vários tipos de lembranças. Fatores como a quantidade de tempo acontecido durante o sonho em alguma das fases NREM ou REM derivam em diversos padrões cíclicos. Ou seja, podemos recordar até 45 minutos de sonho de uma noite, se aconteceu na fase REM. Pelo contrário, o sonho NREM é muito mais difícil de recordar quando acordamos.
Em conclusão, enquanto o estudo do sonho em si permaneceu mais nas mãos da neurociência, o estudo dos seus significados sempre foi mais próprio de filósofos e de correntes psicológicas, como a psicanálise. Mas, ao ficar esta variedade da psicologia promulgada por Freud tão em desuso, saber o que significam certos sonhos tem-se limitado a uma questão de cultura popular.