Efeitos do Alzheimer no sono e no descanso

Mai 9, 2024 | DESCANSO | 0 comments

Muito frequentemente, as pessoas que sofrem com a doença de Alzheimer experimentam dificuldades para dormir. Falamos de um transtorno que influi na qualidade do seu descanso. Por isso, à medida que a doença avança, os efeitos do Alzheimer no sono, assim como as alterações físicas no cérebro, podem originar alterações no ciclo de sono-vigília.

Os avanços médicos, científicos e tecnológicos não têm deixado de acontecer no que diz respeito ao estudo neurológico das pessoas. No entanto, ainda se desconhece completamente a natureza desta interação.

Por que é que o Alzheimer afeta o descanso

As pessoas com algum tipo de demência podem ter problemas para dormir porque experimentam alterações físicas no seu cérebro. Quer dizer, enquanto dormem, e também na qualidade do próprio descanso. Ainda assim, a comunidade científica ainda não sabe como funciona exatamente esta interação: se a falta de sono causa ou exacerba a demência.

Em qualquer caso, em seguida deixamos-lhe o que se sabe sobre como o Alzheimer afeta o descanso.

Fatores que poderiam contribuir para os problemas de sono no Alzheimer

São vários os fatores que poderiam contribuir para o aparecimento dos transtornos do sono em pessoas que sofrem com Alzheimer. Alguns deles são:

– Alterações no relógio biológico.

– Esgotamento mental e físico ao final do dia.

– Desorientação.

– Aumento das sombras na vista, o que pode fazer com que as pessoas com demência se sintam confusas e assustadas.

– Necessidade de dormir menos, o que é comum entre os adultos mais idosos.

Além disso, existem outras razões que podem contribuir para as dificuldades para descansar adequadamente nestes casos:

A falta de melatonina

A demência em geral pode afetar a produção de uma hormona do sono no cérebro chamada melatonina. Esta hormona ajuda a que a pessoa sinta sono quando escurece pela noite.

À medida que avança a sua demência, o cérebro pode produzir menos melatonina. Isto pode piorar devido aos danos no relógio biológico da pessoa, o que significa que os níveis de melatonina não aumentam no momento adequado.

Estar num ambiente luminoso durante o dia (particularmente pela manhã) e num ambiente mais escuro pela noite pode ajudar a que o ciclo de sono e vigília funcione o melhor possível.

Estar confuso pela noite

Quando uma pessoa com demência se desperta pela noite, pode sentir-se ansiosa ou confusa e não saber que horas são. Ao invés de voltar a adormecer, podem pensar que é hora de começar o dia, ou que necessitam estar em algum sítio para fazer algo importante.

Por exemplo, podem vestir-se a meio da noite pensando que necessitam preparar-se para irem trabalhar ou para levar os seus filhos à escola. A pessoa pode tratar de seguir uma velha rotina, preparar o pequeno-almoço e tentar sair de casa para ir a algum lugar.

Estar inativo e aborrecido

Uma pessoa com demência pode terminar por dormir durante longos períodos durante o dia se não tem suficiente atividade física, mental ou social, e que seja significativa para se manter ativa e comprometida com as suas atividades.

É possível que não se sintam o suficientemente cansadas como para dormir pela noite, e pode acontecer que não durmam durante demasiadas horas. O descanso mais curto tende a ser mais leve, pelo que a pessoa não obtém os benefícios de um sono profundo e prolongado e que dure várias horas.

O Alzheimer deteriora o sono?

Para quem sofre com Alzheimer ou com qualquer outro tipo de demência, dormir pode ser um verdadeiro desafio. Nestes casos, é possível que as partes do cérebro que controlam o sono não funcionem tão bem, tal como explica a Sociedade de Alzheimer do Reino Unido.

Assim, as pessoas que sofrem de Alzheimer podem:

  • Despertar-se várias vezes durante a noite.
  • Ter dificuldades para conciliar o sono.
  • Dormir menos tempo profundamente.
  • Dormir menos tempo em geral.

Além da interrupção do seu relógio biológico, uma pessoa com demência pode dormir mais durante o dia e ter maiores dificuldades para dormir bem pela noite. Este processo pode começar incluso antes de que uma pessoa tenha demência ou caso sofra um deterioro cognitivo leve (DCL).

As pessoas que sofrem com Alzheimer dormem mais?

Uma das realidades comuns para aquelas pessoas que vivem com Alzheimer, quer sejam os próprios doentes, ou os seus familiares, é a das alterações nos padrões de sono.

Neste sentido, não há uma regra escrita e esculpida em pedra. Quer dizer, os efeitos do Alzheimer no sono não se traduzem em dormir mais de forma necessária. Ao invés disso, estas alterações podem-se manifestar de diversas maneiras.

Algumas pessoas podem encontrar conforto em dormir mais durante o dia, apenas para se enfrentarem com as insónias durante a noite. No outro extremo, outros podem experimentar um sono interrompido ou inquieto, acrescentando complexidade às suas noites.

Estas alterações no sono podem ser o resultado de uma variedade de fatores. A própria progressão da doença de Alzheimer pode desencadear alterações nos padrões de sono, enquanto que as mudanças no cérebro também podem desempenhar o seu próprio papel.

Além do mais, certos medicamentos prescritos para tratar o Alzheimer podem influir no sono de uma pessoa, assim como o stress ou a ansiedade que estão associados com a doença.

Tal como aconselhamos sempre nestes casos desde a Maxcolchon, acreditamos que é fundamental que qualquer alteração nos padrões de sono seja abordada e discutida com um profissional de saúde. Esta comunicação aberta e uma atenção médica adequada poderão garantir o melhor cuidado possível para quem enfrenta os desafios do Alzheimer e os seus efeitos sobre o sono.

Devemos deixar dormir muito a uma pessoa com Alzheimer?

Nas etapas avançadas do Alzheimer, é muito habitual observar que as pessoas passam longos períodos a dormir, quer de dia, como de noite. No entanto, também é óbvio fazer-se a seguinte pergunta: é apropriado permitir este prolongado descanso?

Se este aumento repentino no tempo de sono apareceu de maneira inesperada, ou se a pessoa demonstra outros sintomas preocupantes, poderia ser indicativo de outras causas subjacentes.

Por outro lado, se a pessoa está em etapas avançadas da demência, e se experimentou um incremento gradual no seu tempo de sono, é provável que seja atribuível ao avanço natural da enfermidade.

É importante prestar atenção ao bem-estar geral da pessoa e consultar a um médico caso surja alguma preocupação. No caso de que um profissional da saúde não o considere um problema, se a pessoa parece estar cómoda e tranquila durante o seu sono prolongado, permitir-lhe desfrutar de um descanso adicional pode ser benéfico para o seu bem-estar geral.

Transtornos do sono comuns nas pessoas com Alzheimer

Os transtornos do sono tendem a piorar à medida que o Alzheimer avança. Em concreto, os possíveis problemas de sono incluem sonolência excessiva durante o dia, além de insónias e dificuldade para conciliar o sono e permanecer dormido.

– Apneia obstrutiva do sono: caracterizada pelos típicos e temidos ronquidos fortes, além de certos episódios de asfixia. Ambas as situações são produzidas devido ao colapso das vias respiratórias durante o sono.

Surpreendentemente, até metade dos pacientes com Alzheimer podem desenvolver apneia em algum momento da sua enfermidade. O tratamento mais comum para a apneia é a pressão positiva contínua nas vias respiratórias, a qual ajuda a melhorar a respiração durante o sono. Este tratamento tem sido associado com melhorias na cognição dos pacientes com Alzheimer que sofrem com este transtorno.

– Síndrome das pernas inquietas: outro transtorno do sono que afeta as pessoas com Alzheimer é a síndrome das pernas inquietas, onde se experimentam sensações desagradáveis nas pernas, e que são aliviadas movendo as mesmas.

Falamos de uma síndrome que pode ser até seis vezes mais comum em adultos idosos com deterioro cognitivo, quando comparada com os números em adultos idosos saudáveis. E, ainda que seja necessária mais investigação, tem-se demonstrado que o tratamento médico melhora a qualidade do sono, oferecendo um alívio às pessoas que lutam contra este problema.

Além dos transtornos do sono físicos, os pacientes com demência também enfrentam desafios emocionais que podem afetar o seu descanso. A depressão e a ansiedade são comuns nestas pessoas, e podem contribuir para a impossibilidade de conciliar o sono.

A terapia cognitiva e comportamental, assim como o exercício e a estimulação sensorial, podem ajudar a reduzir os sintomas e a melhorar a qualidade do sono naquelas pessoas que são afetadas por transtornos do estado de ânimo relacionados com o Alzheimer.

Como podem dormir melhor as pessoas com Alzheimer

É importante recordar que os esforços por melhorar a higiene do sono pode ter benefícios significativos na sua qualidade de vida. Este estudo científico concluiu que práticas como uma boa higiene de sono, assim como a exposição à luz, tiveram como resultado uma melhora no tempo de vigília noturna e nos sintomas depressivos em pacientes com Alzheimer.

Para aquelas pessoas que lutam contra o Alzheimer, um bom descanso pode marcar a diferença na sua saúde física e bem-estar diário. Mas, como podem melhorar o seu sono?

Conselhos para melhorar o sono de pacientes com Alzheimer

  1. Equilibrar a rotina diária: os pacientes devem implementar atividades estimulantes durante a manhã e o resto do dia, de modo a manterem a mente ativa. Por exemplo, reservar as noites para atividades relaxantes como escutar música ou ler.
  2. Estabelecer um horário de sono: deitar-se e despertar-se à mesma hora todos os dias pode ajudar a regular o ritmo circadiano, originando maiores probabilidades para um sono de qualidade.
  3. Evitar as sestas prolongadas: ainda que uma breve sesta possa ser reconfortante, evitar sestas longas durante o dia pode ajudar a manter um ciclo de sono mais regular pela noite.
  4. Aproveitar a exposição à luz: a luz natural durante o dia pode ajudar a regular o relógio interno do corpo. Tente passar tempo ao ar livre e fazer outras atividades, como a fototerapia, já que isso pode melhorar os sintomas do sono em pessoas com Alzheimer.
  5. Fomentar a atividade física: o exercício durante o dia pode promover um sono mais reparador pela noite. Caminhar ao ar livre proporciona benefícios variados, quer físicos, como de exposição à luz.
  6. Administrar o momento da medicação: alguns medicamentos podem interferir com o sono, caso sejam tomados mais tarde no dia. Os familiares deverão consensuar com um médico sobre o momento adequado para tomar a medicação.
  7. Criar um entorno propício para dormir: manter o quarto tranquilo e escuro durante a noite, além de evitar os estímulos visuais e a proliferação de ruídos, ajudará a reduzir as interrupções do sono.

Podem as pessoas com Alzheimer tomar comprimidos para dormir?

Na atualidade, a comunidade científica e médica não respalda o uso habitual de comprimidos para dormir para tratar os problemas de descanso entre as pessoas que sofrem de Alzheimer. De fato, os comprimidos para dormir podem trazer riscos adicionais. Por exemplo, o aumento do risco de quedas e lesões, assim como o potencial para aumentar a perda de memória e a confusão.

Por outro lado, têm sido realizados estudos sobre o uso de suplementos de melatonina como uma possível opção para melhorar a qualidade do sono em pessoas com Alzheimer. No entanto, os resultados destas investigações são contraditórios, já que outras investigações científicas têm demonstrado um ligeiro benefício, aumentando o tempo de sono noturno em uns 30 minutos, enquanto que outros estudos não demonstraram qualquer benefício significativo.

Por último, destacar que existem evidências que sugerem que os suplementos de melatonina podem ter efeitos adversos. Neste caso, um aumento do isolamento social e a depressão em pacientes com demência.