As razões pelas quais o sono intermitente aparece pelas noites
Quando falamos de descanso, é comum que nos centremos na quantidade de sono de que necessitamos, e em quantas horas dormimos. Porém, este não é o único fator chave: ainda que o tempo total de sono seja importante, a continuidade deste, e a capacidade de evitar o sono interrompido, também são fundamentais.
Se alguma vez já teve uma dessas noites, saberá que dormir “a espaços” pode sentir-se como um sono pouco reparador. E o caso é que este sono intermitente pode contribuir para que sofra de insónias, sonolência diurna, privação do sono, e outras consequências potenciais de um mau descanso.
O sono intermitente e os seus sintomas
O principal sintoma do sono intermitente é facilmente percetível. Trata-se de se despertar uma ou mais vezes durante a noite, e a duração destes episódios pode ser variável, pois há quem tenha um só despertar, e há quem tenha vários. Além do mais, estes despertares podem durar apenas uns minutos, ou podem ser mais prolongados, e as pessoas que os sofrem podem experimentar um descanso inquieto, dar muitas voltas na cama, ou sentirem-se meio dormidas, mas sem chegar a cair num descanso mais profundo.
No entanto, nem todos os casos de sono intermitente são evidentes para quem os sofre. Algumas pessoas experimentam despertares muito breves durante a noite, sem se darem conta deles. Por exemplo, as pessoas com apneia obstrutiva do sono (AOS) têm interrupções na respiração que lhes provocam breves despertares, mas estes despertares são, normalmente, bastantes curtos, o que leva a que as pessoas não se apercebam que eles aconteceram.
Numa doença como a AOS, ou em outras situações nas quais a fragmentação do sono seja frequente, mas em que a pessoa que a sofre não se aperceba, é provável que a sonolência diurna excessiva seja um sintoma importante do sono intermitente.
As razões pelas quais o sono intermitente aparece pelas noites
Existe uma ampla gama de possíveis causas da interrupção do sono, e múltiplos fatores que podem estar envolvidos no sono intermitente, e todos dependem de cada pessoa em particular.
A fragmentação do sono costuma ser um problema para os adultos mais idosos, porque experimentam uma mudança natural nos seus padrões de sono, o que resulta em menos tempo de sono profundo, tal como explicam investigações como a publicada na revista Current Aging Science. Com mais tempo nas etapas de sono leve, despertam-se mais facilmente, o que as leva a um maior número de perturbações e despertares.
Como dizíamos, alguns transtornos do sono, como a apneia obstrutiva do sono ou a síndrome de pernas inquietas, que cria uma forte sensação de mover as pernas com maior frequência, interrompem mais frequentemente o sono.
Outras condições médicas coexistentes, que incluem dor, micção frequente pela noite, problemas hormonais, neurológicos e pulmonares podem interferir na continuidade do sono. Também podem interferir com o descanso alguns medicamentos, e incluso alguns podem requerer despertar-se durante a noite para serem tomados.
O stress da vida pessoal ou profissional pode provocar a interrupção do sono, e a ansiedade, assim como a preocupação, ou pensar sobre os problemas, podem fazer com que seja mais complicado voltar a adormecer depois de sofrer um pequeno despertar.
Os pais com bebés ou crianças pequenas podem despertar-se várias vezes durante a noite, e os cuidadores de familiares ou pessoas doentes ou incapacitadas podem enfrentar-se com desafios similares.
E, atenção, porque as mudanças que sofremos na exposição à luz do dia também podem alterar o nosso ritmo circadiano e dificultar o sono contínuo. Isto acontece com frequência em pessoas que sofrem de jet lag depois de fazerem uma viagem intercontinental, ou que trabalham no turno da noite e têm que tentar dormir durante o dia.
As opções de estilo de vida também podem aumentar o risco de sofrer de sono intermitente. Os horários de sono dispersos, o consumo excessivo de cafeína ou álcool, e o uso de dispositivos eletrónicos como o telemóvel na cama, podem alterar os padrões de sono. Por outro lado, ter demasiada luz dentro do quarto, ou demasiado ruído (isto inclui os possíveis ronquidos do seu companheiro de cama…) também podem interferir na capacidade de conseguirmos ter um descanso sem interrupções.
Que implicações pode ter o sono intermitente?
O sono intermitente pode ter implicações mais significativas do que possamos pensar, não só na qualidade do nosso sono, mas também na nossa saúde em geral.
É que as pessoas que sofrem com um sono intermitente pelas noites têm a tendência, em geral, a não dormir o suficiente. Isto pode ter as suas consequências: ao que parece, segundo explica um estudo publicado na revista Plus One em 2017, existe uma forte correlação entre a continuidade do sono e o tempo total de sono, o que indica que as pessoas com transtornos do sono correm um maior risco de não dormirem as horas suficientes. Não é de estranhar que os problemas de sono intermitente sejam algo habitual entre as pessoas que sofrem de insónias, por exemplo. E todo este conjunto pode derivar em sonolência diurna, que faz com que seja mais difícil concentrar-se, além de aumentar o riso de acidentes na hora de conduzir ou operar com maquinaria pesada, entre outras coisas.
Por outro lado, durante um descanso saudável, uma pessoa costuma passar por uma série de ciclos de sono, cada um dos quais é composto por distintas etapas. As interrupções e os despertares repetidos podem interromper esse processo, causando efeitos de grande alcance devido à interrupção do sono, quer na função cerebral, como na saúde física e no bem-estar emocional.
Além do mais, segundo apontam investigações como a levada a cabo por investigadores americanos, as interrupções do sono também se têm visto associadas com enfermidades neurodegenerativas, incluindo a deterioração cognitiva relacionada com a idade, a doença de Parkinson ou a doença de Alzheimer, entre outras.
O sono fragmentado é considerado um sintoma precoce destas condições, mas a investigação sugere que também pode ser um fator que contribua para o seu desenvolvimento e/ou progressão.
Um mau descanso também se tem visto relacionado com outros tipos de problemas, tais como a depressão, ou incluso problemas na nossa saúde física. Todos esses efeitos da interrupção de sono no cérebro e no corpo indicam que um sono saudável significa algo mais do que dormir as horas mínimas necessárias: também requer evitar que se produzam interrupções durante o descanso.
E você? Já sofreu deste tipo de despertares alguma vez? Agora que já sabe quais são as razões pelas quais o sono intermitente aparece pelas noites, esperamos que o consiga evitar, caso lhe seja possível. E, se não o conseguir, não hesite em consultar-se com o seu médico!