Sonho animal: os animais têm pesadelos?
Os animais sonham? E, em caso de resposta afirmativa, também têm pesadelos como os humanos? Se já temos dificuldades para entender o que se esconde detrás do mundo dos sonhos dos humanos, a conceção, no que diz respeito aos nossos animais de estimação, pode ser ainda mais complicada do que a do conceito do infinito. Tentamos trazer alguma luz sobre um dos grandes mistérios da natureza.
Assim foi como a ciência demonstrou que os animais também sonham
Qualquer aspecto relacionado com o âmbito dos sonhos é misterioso e enigmático. Um campo em constante exploração desde que, na década dos anos 50, a ciência começou a estudá-lo mais detalhadamente. Após as teorias de psicanalistas como Sigmund Freud, a psicologia encontrou neste terreno um novo campo para analisar. E isso derivou em cientistas optando pelo estudo sobre o sonho dos animais.
Foi exatamente nessa época que diversos cientistas encontraram evidências de que, pelo menos, muitos mamíferos, e alguns tipos de aves, também possuíam a capacidade de sonhar.
A descoberta partiu do próprio estudo científico que estava relacionado com o sonho dos humanos. Quando em 1953 se descobriu o que hoje em dia conhecemos como fase REM, foi possível esclarecer em que é que consistia a etapa do sono onde se produz o movimento ocular rápido. Basicamente, falamos de uma parte do nosso descanso onde os olhos não param de se mover de forma compulsiva de um lado para o outro, e na qual se regista uma elevada atividade cerebral.
Estabelecida a fase REM nos humanos e, portanto, aclarado o mistério de qual é a etapa do sono onde se produz a atividade onírica, a ciência colocou a sua atenção e interesse nos animais. Seriam os animais capazes de sonhar também?
A ciência começou assim a estudar diferentes espécies. E descobriu que não só os mais parecidos biologicamente aos humanos demonstravam, durante a fase do sono de movimento ocular rápido, uma atividade cerebral, mas também o faziam outros tipos de espécies: répteis, mamíferos, aves… até ornitorrincos! Os estudiosos da matéria encontraram semelhanças com os humanos na atividade elétrica que os cérebros destes animais emitiam durante a fase REM. A conclusão era óbvia: se para as pessoas significava uma recreação onírica, também o significava para eles.
Desde que o estudo do sono animal começou, a meio dos anos 50, passaram mais de cinco décadas e até uma mudança de século. E, ao longo do caminho, dezenas de estudos que reafirmam a teoria de que os nossos animais de estimação são capazes de sonhar.
Entre eles encontramos o mais completo e paradigmático do ano. Foi realizado no ano de 2001, e os responsáveis foram os cientistas que trabalhavam para a revista Neuron. A experiência consistiu em comparar dois padrões cerebrais de uma série de ratos. Por um lado, ratos experimentando a fase REM. Por outro lado, os mesmos ratos correndo pelo seu labirinto. O resultado foi conclusivo: partilharam a mesma atividade cerebral.
Então, os animais também têm pesadelos?
Se tem um cão como animal de estimação, de certeza que já comprovou mais do que uma vez como emitem pequenos latidos agudos, sofrem compulsões, e podem até rosnar. É bastante óbvio que se encontram nesse momento na fase REM do seu sono.
Se é verdade que nem a ciência médica nem a psicologia conseguiram esclarecer ainda os motivos que se escondem detrás dos pesadelos, a lógica leva-nos a pensar que os animais também os podem experimentar.
No caso das pessoas, já foi possível determinar certos fatores de índole psicológico que podem estar na origem dos pesadelos. Basicamente, os nossos maiores medos (profundos e obscuros, ou não), escondem-se por trás deles. Seria lógico pensar que o mesmo acontece com os animais.
Enquanto dormimos, o cérebro processa toda a informação experimentada durante o dia. Para os seres humanos, as más experiências transformam-se em medos e, portanto, em terreno fértil para os pesadelos. O mesmo sucede com os nossos cães e gatos.
Os animais podem recriar situações quotidianas negativas, e transformá-las em pesadelos. Experiências relacionadas com o feito de procurar comida, serem abandonados, ou até perseguidos.